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25/09/2024

REINALDO SPITALETTA
Matar com inteligência artificial

Reinaldo Spitaletta, Sombrero de mago,24/9/2024
Traduzido por
Helga Heidrich, editado por Fausto Giudice, Tlaxcala

A ciência, ou o que é definido como tal, e há várias abordagens, está a serviço da morte nessas épocas apocalípticas. Para a destruição, que é uma indústria, há uma grande inclinação e um terreno fértil, especialmente por parte dos países que dominam mercados, nações, pessoas, mediadores de vários níveis, que são seus peões. Heráclito disse (há poucas evidências disso) que a cultura envenena. O que envenena hoje é a política ou o prolongamento da política por outros meios, como a guerra.

 

Eu realmente queria matar todos os humanos, mas eles eles se anteciparam a nós. Charge de Ryan Beckwith

A inteligência artificial, as máquinas, a tecnologia, a alta velocidade em seu desenvolvimento, superaram o ser humano. O criador como escravo ou vítima. Um Doutor Frankenstein mais sofisticado. O que mais vale é destruir o outro, aquele que atrapalha a dominação de poucos sobre milhões. Estamos na praça, no cinema, no estádio, enfim, e de repente seu celular explode, ou seu pager, ou seu walkie-talkie, ou disparam contra você de um drone inesperado.

O novo terrorismo, que já tem muitas rugas e outros sinais de envelhecimento, é exercido pelas potências, pelo imperialismo. É claro que o mercado de bombas não se sente desconfortável com essas sutilezas. Os mísseis voam e podem, como no caso de Israel contra a Palestina, destruir uma população inteira, o que é chamado de genocídio, e nada acontece. Tudo permanece igual, o que é outra forma de continuar piorando.

A ciência, que, como em um conto de Wilde, destruiu fantasmas, é hoje uma presença espectral com seus dispositivos que parecem surgir do nada e podem cair do céu ou explodir sob o solo. Morte por controle remoto. Hoje não se trata, como em um antigo filme ianque, Universal Soldier, de reviver soldados mortos (como no caso da invasão imperialista dos EUA no Vietnã) e colocá-los, como autômatos, a serviço do terror, mas de aperfeiçoar armas, às vezes invisíveis.

Além dos métodos do Big Brother, uma distopia novelística que há muito se concretizou no mundo, há os métodos mais sofisticados de vigilância extrema, sutil e algorítmica; de classificação dos cidadãos; de penetração até mesmo na sopa para detectar um possível alvo para execução. E se eles forem agitadores, insurretos, que não engolem contos manipulados, tanto melhor. Eles devem ser abatidos, não mais com a vulgaridade de um envenenamento, mas com a perfeição de um raio da morte.

Em alguns casos, deploráveis e certamente contrários a toda lógica, é necessário usar foguetes mortais, bombas lançadas por aviões, o terror dos céus, não apenas para arrasar prédios, bairros, ruas, civis em massa, mas para apagar uma cultura, para não deixar vestígios do que poderia ter existido naquelas terras devastadas. E em outros, com mais “inteligência”, para selecionar aqueles que cairão pela interferência, se preferir, até “elegante”, de pequenos dispositivos que também cumprem o objetivo de matar, de suprimir.

A morte dos “inimigos” do Estado, ou de uma política, ou de uma intervenção em assuntos internos, tem assumido a forma de um jogo, de uma brincadeira macabra de Halloween. Além da biopolítica, caminhamos pelas sombrias trilhas da necropolítica, com a revelação de outras formas de crueldade, do perverso, de uma equação perfeita para eliminar pessoas, às vezes sem deixar nenhum “rastro de sangue na neve”.

Portanto, belisque-se, cidadão, você pode estar na mira, às vezes apenas para fazer parte de um castigo. Ou para um teste. Parte de um teste, de um experimento de poder para um exercício mortal. Tudo flui, disse o filósofo de Éfeso, também apelidado de O Negro, que postulou a “unidade dos opostos”. Bem, hoje devemos destruir os opostos, aqueles que se contradizem, aqueles que estão do outro lado do rio, o mesmo no qual ninguém se banha duas vezes.

A velocidade, que hoje é uma variável projetada para mil coisas, como lucros rápidos, uma transa rápida, uma leitura superficial, é hoje um truque para banir a reflexão, o pensamento, para deixar tudo nas aparências, para passar sem nenhum questionamento, e assim por diante, até formar um cidadão irrefletido, pouco emotivo, manipulável, que, é claro, também pode ser estourado com um celular.

Não sei se essa mistura que chamam de pós-modernidade, seja lá o que for, também contempla o assassinato de alta precisão como uma variável definitiva, como uma característica do mundo atual. Os territórios não precisam mais ser invadidos. Existem outras formas de ataque, à distância, sem a necessidade de sentir o cheiro do suposto inimigo, a vítima-alvo. A inteligência artificial e outras cúpulas tecnológicas fazem um “trabalho limpo”, asséptico, e dessa forma a ação não é tão horrível. Não temos que deixar um rastro de cadáveres, crianças mutiladas, mulheres despedaçadas, vilarejos em ruínas, o que também temos que fazer, é claro (aqui falam os carrascos), mas “para que desapareçam” ou, como nos velhos tempos, para fazê-los aprender a lição, daremos a eles uma morte menos barulhenta.