Pepe
Escobar, Asia Times, 7/7/2021Traduzido
pelo Coletivo de tradutores Vila Mandinga
And it’s all over
For the unknown soldier
It’s all over
For the unknown soldier
The Doors, The Unknown
Soldier[1]
Comecemos com alguns espantosos fatos em campo.
Os Talibã estão operando em tempo integral. No início dessa semana, seu
braço de Relações Públicas dizia que têm sob seu controle 218, dos 421
distritos afegãos – capturando mais e mais a cada dia. Dezenas de distritos são
contestados. Províncias afegãs inteiras são perdidas, basicamente inacessíveis
para o governo de Cabul – reduzido, de facto a administrar umas
poucas cidades espalhadas pelo país e sob cerco.
Já dia 1º de julho, os Talibã anunciaram que controlavam 80% do território
afegão. É próximo do que havia há 20 anos, poucas semanas antes do 11/9, como o
Comandante Masoud me disse, no vale
Panjshir, quando preparava uma
contraofensiva, que os Talibã dominavam 85% do país.
A nova abordagem tática deles funciona como sonho. Primeiro, há o apelo
direto aos soldados do Exército Nacional Afegão, ENA [ing. Afghan National
Army, ANA], para que se rendam. Negociações rápidas – e acordos cumpridos.
Alguns (poucos) milhares de soldados já se uniram aos Talibã sem que um só tiro
tenha sido disparado.
Os responsáveis por construir mapas não têm tempo suficiente para carregar
dados atualizados em tempo real. O Afeganistão vai-se rapidamente convertendo
em caso exemplar de colapso de governo central em pleno século 21.
Os Talibã estão avançando rapidamente no Vardak ocidental, capturando
facilmente bases do ENA. É como o prólogo de um assalto contra Maidan Shar,
capital provincial. Se obtiverem o controle de Vardak, estarão literalmente às
portas de Cabul.
Depois de capturar o distrito de Panjwaj, os Talibã estão também a uma
pedrada de distância de Kandahar, fundada por Alexandre, o Grande em 330 a.C. e
cidade onde um certo mulá Omar – com pequena ajuda de seus amigos dos Serviços
Especiais paquistanesas (ISI) – iniciou a aventura dos Talibã em 1994,
liderando a tomada do poder em Cabul em 1996.
A grande maioria da província Badakhshan – maioria Tadjique, não Pashtun –
caiu depois de apenas quatro dias de negociações, com umas poucas escaramuças.
Os Talibã até capturaram um posto de colina, muito próximo de Faizabad, capital
do Badakhshan.
Rastreei em detalhe a fronteira Tadjique-Afeganistão, quando viajei pela estrada Pamir no final de 2019. Os Talibã, seguindo trilhas de
montanha do lado afegão, conseguiu alcançar rapidamente a lendária, desolada
fronteira com Xinjiang no corredor Wakhan.
Os Talibã estão também próximos de um movimento contra Hairaton, na
província Balkh. Hairaton está na fronteira afegã-uzbeque, local da
historicamente importante Ponte da Amizade sobre o Amu Darya, pela qual o
Exército Vermelho partiu do Afeganistão em 1989.
Comandantes do ENA juram que a cidade está agora protegida por todos os
lados por uma zona de segurança de cinco quilômetros. Hairaton já atraiu
dezenas de milhares de refugiados. Tashkent não quer que esses refugiados
cruzem a fronteira.
E não só na Ásia Central; os Talibã já avançaram até os limites da cidade
de Islam Qilla, na fronteira do Irã, na província de Herat, e ponto chave de
passagem de fronteira, no muito ativo corredor entre Mashhad e Herat.
Militantes talibã e aldeões afegãos participam de uma reunião para celebrar o acordo de paz e sua vitória sobre os EUA , no distrito de Alingar, na província de Laghman, em 2 de março de 2020. Foto: AFP / Noorullah Shirzada