Pepe Escobar, The Cradle, 9/12/2021
Traduzido pelo Coletivo de Tradutores
Vila Mandinga
“— Re quê?,
indagou Bianchon.
— Re-toque.
— Re-trato.
— Re-talho.
— Re-tranca.
— Re-truque.
— Re-treta.
— Re-tinto.
— Re-torama.
Essas oito
respostas partiram de todos os lados da sala com a rapidez de uma fuzilaria e
se tornaram ainda mais engraçadas porque o pai Goriot olhava para os convivas
com expressão aparvalhada, como alguém que procura entender uma língua
estrangeira.”
Pai Goriot, Balzac, 1835, tradução e notas de Paulo Rónai, aqui, pág. 71*
Francês islamofóbico e candidato à presidência, Eric Zemmour magnetiza a extrema direita com suas polêmicas racistas. Nome de família judeu berbere da Argélia, Zemmour significa azeitona em berbere e “buzina” em árabe. Foto: The Cradle
Em agudo contraste com o ambiente político moroso por toda a Europa, a
eleição na França – contra todas as probabilidades – promete agora se tornar
uma das disputas mais interessantes que teremos em 2022.
Justo quando todos, da Normandia à Côte d’Azur pareciam já conformados a sofrer
um segundo surto de macronismo, Eric Zemmour, polemista convertido em político,
aparece com uma reviravolta no enredo.
E precisou menos de uma semana. Na 2ª-feira, 29 de novembro, Zemmour anunciou
oficialmente que concorrerá às eleições. Chegou com cenário completo à De
Gaulle, lendo discurso ao som de Beethoven, frente a um microfone antiquado e
cercado por livros.
Ali Zemmour anunciou o nome de seu novo partido político: ‘Reconquista’ – inspirado
na batalha de sete séculos que os cristãos tiveram de enfrentar para expulsar
os mouros da Ibéria, o que afinal conseguiram em 1492.
Para Zemmour e seus ávidos acólitos, trata-se simplesmente de reconquistar a
França, arrancando-a outra vez das mãos do inimigo muçulmano.
Depois, no domingo, 5 de dezembro, realizou seu primeiro comício de candidato diante de mais de dez mil
pessoas. Nenhum político francês hoje consegue arrastar semelhante multidão.