29/09/2025

JAMIL CHADE
Artistas e movimentos sociais pedem que Lula proteja flotilha rumo a Gaza

Jamil Chade, UOL, em Genebra, 28/09/2025

Uma ampla coalizão de artistas, personalidades, acadêmicos, políticos e movimentos sociais enviaram, neste domingo, um apelo para que o governo Lula garanta a proteção da Global Sumud Flotilla (GSF), iniciativa internacional que busca romper o bloqueio ilegal a Gaza e levar ajuda humanitária aos palestinos.

O grupo formado por nomes como Chico Buarque, Chico César, rapper GOG, Bela Gil, Mel Lisboa, Aline Borges, o escritor Milton Hatoum e padre Julio Lancelotti pedem ainda que o governo Lula adote sanções contra Israel e que caminhe para uma ruptura das relações diplomáticas.

Também assinam a petição Carol Proner, Vladimir Safatle, Paulo Sérgio Pinheiro, Luis Nassif, Luiza Erundina, Eduardo Suplicy e José Dirceu.


Greta Thunberg usa camiseta em homenagem a Marielle em flotilha de ajuda a Gaza

A GSF reúne aproximadamente 600 integrantes de 44 países em cerca de 50 embarcações, inclusive 15 brasileiros.

Na semana passada, Lula usou seu discurso na ONU para denunciar a situação em Gaza. "Ali, sob toneladas de escombros, estão enterradas dezenas de milhares de mulheres e crianças inocentes. Ali também estão sepultados o Direito Internacional Humanitário e o mito da superioridade ética do Ocidente. Esse massacre não aconteceria sem a cumplicidade dos que poderiam evitá-lo", disse.

Mas, entre os movimentos sociais, há uma pressão para que o governo Lula adote medidas concretas para além dos discursos.

Agora, o grupo reivindica que "o governo brasileiro siga firme na exigência de cessação imediata dos ataques e da tentativa de criminalização da Global Sumud Flotilla, para preservação dos brasileiros que nela navegam, com a garantia de passagem livre e desimpedida, conforme o previsto no direito internacional, para entrega da ajuda humanitária a Gaza, urgente diante da fome, da sede, da falta de condições de tratamento médico, saneamento e saúde impostas pelo cerco israelense, como parte do genocídio".

Mas a iniciativa ainda pede que o governo brasileiro "imponha sanções a Israel, rumo à ruptura de todas as relações com o estado genocida".

Movimentos como MST, MTST e CUT também fazem parte da iniciativa, além das deputadas Sâmia Bomfim (PSOL-SP), Fernanda Melchionna (PSOL-RS), Érika Kokay (PT-DF), o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) e o deputado João Daniel (PT-SE).

A carta com mais de 350 assinaturas é uma iniciativa da organização da flotilha e surge após os ataques a barcos, com o lançamento de pelo menos 14 bombas de efeito moral e produtos químicos no último dia 23 de setembro.

"Os corações e mentes da maioria das pessoas no mundo estão com nossa histórica missão. A invasão total da Cidade de Gaza segue em velocidade acelerada e vamos continuar a navegar para romper o cerco e abrir um corredor humanitário a Gaza, carregando toda a ajuda que podemos. Sigam-nos e levantem-se pelo fim do genocídio", convoca diretamente da Flotilha o ativista brasileiro Thiago Ávila, organizador internacional da Global Sumud Flotilla.

Comitês de solidariedade ao povo palestino, além de organizações da comunidade árabe-palestina no Brasil, como a Federação Árabe Palestina do Brasil (FEPAL) e o Instituto Brasil Palestina (Ibraspal), também apoiam a iniciativa, assim como coletivos como o Vozes Judaicas por Libertação, expressão judaica antissionista no país.

Envio de embarcações

Na última semana, 37 parlamentares enviaram um documento ao governo federal pedindo medidas urgentes de proteção aos tripulantes da Global Sumud Flotilla, dentre os quais os brasileiros. O texto solicita que a União "envie embarcações equipadas para auxiliar na proteção à Flotilha e garantir resgate aos brasileiros que integram a missão". A iniciativa foi da deputada Fernanda Melchionna (PSOL-RS), com apoio de nomes como Érika Kokay (PT-DF) e Sâmia Bomfim (PSOL-SP).

Está ainda prevista, para o dia 2 de outubro, uma reunião com o ministro Mauro Vieira, organizada pelo deputado João Daniel (PT-SE), que contará com a presença das deputadas Sâmia Bomfim e Fernanda Melchionna. A pauta inclui a costura diplomática, a segurança da Flotilha e o posicionamento do governo brasileiro diante dos ataques israelenses, além dos encaminhamentos da Audiência Pública realizada em 28 de agosto, que debateu a ruptura de relações com Israel.

Pedido para Lula agir

Marina Conti, vereadora de Campinas (PSOL), aponta que "as declarações do governo brasileiro e do presidente Lula condenando o genocídio foram importantes, porque o Lula tem um peso internacional".

"Mas a gente precisa que o governo vá além: nós precisamos que o governo defenda a Flotilha, essa missão de solidariedade internacional e os brasileiros que aqui estão. Isso seria de grande importância", disse.

"Nós precisamos de ação concreta, por exemplo, de uma ação diplomática que possa garantir a nossa proteção, assim como a Espanha e a Itália estão mandando fragatas para escoltar essa missão e prestar assistência", afirmou.

"Nós precisamos que o governo brasileiro tome providências concretas e que também tome providências para pôr fim ao genocídio, porque as palavras são importantes, têm um peso político, mas nós precisamos de ações concretas, como, por exemplo, romper as relações econômicas e energéticas. O Brasil precisa parar de abastecer a máquina de morte de Israel com petróleo, com aço, com todas essas matérias-primas que são essenciais e que hoje alimentam o massacre do povo da Palestina", defendeu.

João Aguiar, coordenador da comitiva brasileira na flotilha e integrante do Núcleo Palestina do PT, estima que "a Flotilla não leva só a ajuda humanitária tão necessária". "Ela carrega algo muito mais pesado. A Flotilla navega junto com milhões — quem sabe bilhões — de pessoas do mundo todo. Pessoas que, através dessa ação, mandam um recado de solidariedade, um aviso de que o mundo não aceitará isso calado, de que o povo palestino não está só e nem será abandonado. Navegamos sempre juntos: nós, no mar, e vocês, na terra", diz.



Quem são @s brasileir@s embarcad@s

  • Thiago Ávila (@thiagoavilabrasil) — Internacionalista, socioambientalista, militante experiente. Organizador internacional da flotilha e de missões anteriores no Mediterrâneo, como a do navio Madleen. Reconhecido por sua atuação em causas climáticas e pela justiça social.
  • Bruno Gilga Rocha (@brunogilgarocha) — Trabalhador da USP e atuante no Sindicato dos Trabalhadores da USP. Como correspondente do Esquerda Diário, esteve na Marcha Global para Gaza, no Egito, e é porta-voz da delegação brasileira da Global Sumud Flotilla.
  • Lucas Farias Gusmão (@ekkicetacea) — Ativista, internacionalista e filho da Bahia. Tem como preocupação central o futuro do planeta e da Humanidade diante da máquina capitalista e imperialista que tudo devora.
  • João Aguiar (@joaoaguiar_) — Ativista do Movimento Global para Gaza e do Núcleo Palestina do PT/SP. Atuou em unidades públicas de assistência social no Nordeste brasileiro, promovendo justiça social por meio da culinária, alimentação e agricultura familiar. Hoje integra a coordenação da delegação brasileira da flotilha.
  • Mohamad El Kadri (@mohamadelkadri) — Coordenador da Frente Palestina e do Fórum Latino Palestino e ativista. Representa a voz da diáspora árabe no Brasil e sua conexão histórica com a causa palestina.
  • Mariana Conti (@marianaconti_psol) — Vereadora em Campinas (PSOL/SP). Feminista, reconhecida pela defesa de direitos humanos, da educação pública e do ecossocialismo.
  • Gabrielle Tolotti (@gabi_tolotti) — Presidenta do PSOL RS. Atua em movimentos sociais e de solidariedade internacional.
  • Ariadne Telles (@ariadnetelles) — Advogada popular e militante pelo Movimento Bem Viver. Atua na luta pela terra na Amazônia, com experiência em ações diretas e uma trajetória de resistência em defesa de territórios e comunidades.
  • Lisiane Proença (@lisiproenca) — Comunicadora popular, viajante e agitadora cultural. Há uma década na estrada, conecta lutas socioambientais, territórios e comunidades no Brasil e na América Latina profunda, registrando e amplificando vozes que resistem.
  • Carina Faggiani — Professora de Educação Física e doutora em Ciências pela UNIFESP. Integra o Movimento de Lutas de Classes (MLC) e a Unidade Popular (UP), empenhando-se por uma sociedade mais equitativa, inclusiva e anticapitalista.
  • Magno Carvalho Costa (@magnocosta) — Militante do Sindicato dos Trabalhadores da USP e dirigente da CSP-Conlutas. Veterano de iniciativas de solidariedade internacional ao povo palestino.
  • Victor Nascimento Peixoto (@mansur.peixoto) — Professor pesquisador da história islâmica. Ativista e comunicador popular.
  • Giovanna Vial (@givial) — Jornalista e ativista, advogada, mestra em Direitos Humanos.

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