Pepe Escobar, The Saker, 31/8/2021
Traduzido pelo Coletivo de tradutores Vila Mandinga
Caro leitor: vamos sentar, relaxar e viajar, pela memória, até tempos pré-históricos – ao mundo pré-11/9, pré-YouTube, pré-Facebook. Bem-vindos ao Afeganistão dos Talibã – o Talibanistão – dos anos 2000.
Fátima, Maliha e Nouria, em casa, em Cabul
Que
dias, aqueles! Bill Clinton curtia suas últimas aventuras na Casa Branca. Osama
bin Laden não passava de hóspede discreto do Mulá Omar – e só ocasionalmente
chegava às primeiras páginas dos jornais. Ninguém suspeitava de que viria o
11/9, ou a invasão do Iraque, ou a “guerra ao terror”, nem se cogitava de
reposicionar a griffe ”guerra do Af-Pak”, nem de uma crise
financeira global. Reinava a globalização, e os EUA eram, sem quem o
desafiasse, o cão-alfa. O governo Clinton e o Talibã já estavam infiltrados bem
fundo no território do Oleogasodutostão – discutindo o tortuoso recém-proposto
gasoduto Trans-afegão.
Tentamos de tudo, mas não conseguimos ver, nem de longe, o Mulá Omar. Osama bin
Laden também se mantinha afastado de todos os olhares. Mas experienciamos
o Talibanistão em ação, detalhadamente.
Hoje é dia especial para revisitar esses escritos. A Guerra Sem Fim no
Afeganistão acabou; daqui em diante será um monstro Híbrido, contra a
integração do Afeganistão nas Novas Rotas da Seda e na Eurásia Expandida.
Em 2000 escrevi um especial sobre viagem por terra pelo Talibanistão para uma
revista política japonesa, já extinta, e dez anos depois, uma série de três
artigos em que revisitei a mesma viagem, para Asia Times.
Por que, então, re-revisitá-los vinte anos depois? Culpem a tentação, a isca,
da arqueologia e da história. O que se faz aqui é ao mesmo tempo lançar um
olhar a um mundo há muito tempo perdido e abrir uma janela para um renovado futuro
possível no Afeganistão.
A parte 2 daquela trilogia pode ser encontrada em ing. aqui; em port. aqui; e a parte 3
em ing. aqui; em port. aqui).
Mas o 1º ensaio da trilogia desapareceu da internet (é uma longa história). Por
acaso, encontrei-o recentemente num hard drive. As imagens são daquela
época, feitas com uma Sony mini-DV: acabo de receber o arquivo, mandado de
Paris (aqui, adiante, com algumas poucas atualizações).
É visão breve de um mundo há muito perdido: podem chamar
de registro histórico de um tempo quando ninguém sequer sonhava com algum “momento
Saigon” remixed – como guarda-chuva reformatado de guerreiros
convenientemente rotulados de “Talibã”.
Esses Talibã, 20 anos depois de terem dado tempo ao tempo, bem ao estilo
Pashtun, agradecem que Alá lhes tenha dado a vitória sobre mais um invasor
estrangeiro.
EUA
e OTAN chegariam talvez a algum “momento Saigon” – e partiriam? Em 2000 e em
2010 parecia que não. Enquanto o general David “Sempre de olho em 2012” Petraeus,
como seu predecessor general Stanley McChrystal, avançava suas forças
especiais, Assassinato Incorporate, para dobrar os Talibãs, o mesmo
Petraeus foi capaz de dizer – sem ironia – ao canal Fox News, que o
“objetivo último” da guerra seria “reconciliar” o ultracorrupto governo de
Hamid Karzai e os Talibãs.
Agora, sim, pé na estrada, de volta para o futuro.
A vida no Talibanistão
1. Meta esses infiéis na cadeia
2. O grau zero da cultura
3. Casado com a máfia
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